quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O mau e o bom Pai ou Mãe de santo

Dentro das religiões afro. brasileiras, tal como tudo na vida, nem tudo é bom, encontram-se boas e más pessoas, bons e maus dirigentes espirituais, bons e maus terreiros.
Não entendo muito bem o porquê, mas julgo que será a dualidade sempre presente na humanidade, sempre o eterno equilibrio do bem e do mal. Contudo sempre tive a ideia de que as pessoas ligadas á religião (neste caso á Umbanda e ao Candomblé), sempre teriam obrigatoriedade de serem boas pessoas, principalmente os Pais e Mães de santo, julgava eu que teriam de ser um exemplo de seres humanos. Mas estava totalmente errado! Há realmente esses seres exemplares (que eu tenho a sorte de conhecer alguns), contudo sempre com os seus defeitos como seres humanos que são, e há realmente pessoas diabólicas, sem quaisquer escrúpulos, sem se importando com os sentimentos dos outros, sem se importando com o desenvolvimento espiritual dos outros, pensando só no seu bem estar, e na arrecadação de bens materiais á custa do sofrimento, trabalho e ignorância das pessoas que as procuram. Pessoas que não se importam se o dinheiro que estão a "extorquir" aos outros, lhes faz falta para comer, ou para dar de comer aos seus filhos, enfim...

Lembrando-me agora de um caso antigo, quando tive o primeiro contacto com as religiões afro. brasileiras, havia uma pessoa no cargo de dirigente espiritual do terreiro que frequentava (não interessa referir nomes ou sexo), que chegava ao ponto de quando incorporada numa entidade feminina de esquerda oferecer a sua matéria para sexo... mais, nesse terreiro os Exus e Pombagiras eram como se "leiloados", isto é: transmitia aos "filhos" que tinha recebido "informação do astral", que havia uns quantos Exus e Pombagiras especificando o nome e tudo o mais, que iam ser "entregues" para os "filhos" que fossem merecedores. O resultado era que os "filhos" escolhidos e que incorporavam alguma entidade de esquerda, logo lhes era dado um nome da tal "lista de Exus do astral". (coitados dos Exus e Pombagiras que se calhar tinham um nome e linha de trabalho totalmente opostos e tinham de trabalhar assim... e se queriam). Hoje acho isto hilariante, mas naquele tempo...
Havia mais situações caricatas, tal como a que os "filhos" desse terreiro eram constantemente avisados, de que se saissem de lá, todas as entidades lá ficavam pois eram pertence do terreiro. Resumindo, um "filho" que saisse, era abandonado pelo seu Exu, Preto-Velho, Caboclo, Criança, e tudo o mais. Só não ficava lá a pele porque precisava dela, senão...
Inclusive, a pessoa dirigente do terreiro, chegava a incorporar Exus de pessoas que se tinham ido embora para "provar" que eles ficavam lá, e esses "filhos" tinham ficado sem protecção nenhuma e a vida toda desgraçada.

Enfim, escrevi esta história "real" apenas para que as pessoas que a lerem, tenham um exemplo do que é mau, e tentem ver melhor o que é o bom. Mas, é claro que continuam a cair e vão continuar sempre a cair pessoas nas mãos destes maus dirigentes espirituais que abundam por esse mundo fora, basta a pessoa não ter conhecimento nenhum, estar em sofrimento e fragilizada procurando ajuda para acreditar que pirite é ouro.

Eu acredito que tudo na vida nos ensina algo, e também as más experiências nos trazem ensinamentos. E ás vezes são mesmo necessárias para a nossa vida.
Tudo o que é de mau abunda por ai e nos é dado de bandeja, há que ter a sorte e discernimento para procurar e encontrar realmente o que é bom.

Almada, 10 de Fevereiro de 2009 Copyright © Paulo Lourenço "Ramiro de Kali"

1 comentário:

Antonia disse...

Infelismente tudo que visa assuntos do além manipulado por homens com as suas qualidades e defeitos, não deixa de ser o reflexo delas próprias.
Compreende-se por isso o excesso de sincretismo que envolve estes cultos.
Pais e mães enganam e brincam com vidas alheias usando a ignorância sobre os orixas

que obrigatoriamente se traduz em medo dos seus seguidores.
Já foi envolvida tambem com esta gente sem escrúpulos mas felismente hoje estou livre deles.
Não acredito segamente em nada e tento tirar as minhas próprias conclusões tentando sempre perceber antes de aceitar como sendo a minha verdade. Charlatões há muitos e tenho muita pena das pessoas que caiem em suas mãos.
O culto dos orixás é lindo mas nenhuma religião se perpetua através do medo mas sim do amor.
Gostei da sua reflexão porque representa infelismente a nossa realidade. Antonia Seferlis