quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Máscaras Africanas


O Papel das Máscaras na Cultura Africana

A máscara é um objeto que causa um fenômeno intrigante, qualquer individuo pode se tornar outra pessoa por debaixo de sua cobertura. Este processo de transformação é apreciado por diferentes culturas para simbolizar seus ancestrais e divindades na maioria dos rituais. Para alguns grupos, como tribos africanas, o poder da máscara vem desde o período de migração dos antigos povos. Algumas são criadas para assegurar colheitas férteis, fator muito importante na maioria das sociedades africanas, outras representam um papel sagrado na vida do indivíduo africano vindo desde sua infância até o momento de seu enterro. A máscara é vista como um símbolo e instrumento dentro de diversas comunidades facilitando a identificação de qualquer família ou clã dentro de seus ciclos.

A maioria das máscaras é feita de madeira, devido a sua abundância natural nas florestas. Os escultores selecionam freqüentemente os tipos diferentes de madeiras com várias razões em mente. Para o africano, a árvore é um ser vivo com alma, assim eles a cultuam com vestimentas acreditando que elas tenham uma vida melhor até o momento de seu corte ou morte natural. Elas também possuem espíritos que habitam seu interior, este fato leva o escultor a consultar freqüentemente um Bàbáláwo, que realiza cerimônias de purificação e oferece um sacrifício para satisfazer o espírito da árvore com antecedência. Assim que a árvore é cortada, o escultor chupa sua seiva para alcançar uma fraternidade com o este mesmo espírito, fazendo com que ele possa achar uma nova moradia em outro lugar. O escultor acredita que este espírito transfere uma parte de sua força à máscara ou escultura, tornando-as poderosas. O talento do escultor em fazer máscaras sagradas se assemelha ao de um mestre que utiliza muita filosofia e sentimento em seus ensinamentos e doutrina. A madeira fresca é verde e macia, fator que facilita o trabalho do escultor, que por muitas vezes esfrega óleo de palma na peça para reduzir a velocidade no processo de secagem.

Geralmente a madeira apresenta várias manchas de sangue causadas pelos ritos de sacrifício a fim de simbolizar seu valor e poder. O escultor retira somente o excesso destas manchas amolecendo sua superfície com materiais orgânicos como folhas, peles de animais e arenito. A pintura é feita com a extração de tinturas vindas de folhas, frutos, alguns legumes e até mesmo da terra.

Existem outros tipos de máscaras feitas com outros materiais como pano, ráfia, conchas, contas, dentes, ossos, fibras vegetais e pedaços de metal. As Máscaras retratam variedades faciais que podem ser abstratos, animais, uma combinação de características humanas como expressões amedrontadoras exageradas ou alegres e festivas, além de se diferenciar através de suas várias formas e tamanhos diferentes. Algumas Máscaras ficam presas diretamente na cabeça do dançarino, outras podem se sustentar frente à face presa na fantasia ou coberta de cabeça, como também existe um tipo parecido com um grande capacete que cobre a cabeça inteira e fica descansada sobre os ombros. Existe também uma máscara de panos bem grossos que tem uma aparência quadrada que fica presa na coroa da cabeça, unida a uma fantasia que cobre o corpo inteiro até os dedos dos pés. O dançarino olha por uma abertura no material da fantasia ou por um fino pano negro que lhe cobre face. O efeito é fazer o dançarino se aparecer com um antigo sacerdote, confirmando a convicção que ele é um espírito sobrenatural. São de dois modos primários as funções das máscaras africanas: o primeiro é utilizado em cerimônias públicas com participação de audiência; e o segundo provê uma cerimônia privada para sócios de uma sociedade secreta. Elas exercem funções nos principais rituais comuns como funerais, cultos de antepassado, iniciações e mitos que podem ser representados por máscaras de animais mitológicos, heróis e até mesmo o sol e a lua.

A fertilidade e aumento de humanos, animais ou a terra estão entre as preocupações mais vitais do africano. Ele depende de harmonia com a natureza e seus Deuses. Sendo assim, as festividades agrícolas são periodicamente celebradas ao longo das fases diferentes da estação crescente, de clarear a terra a encher as reservas de comida. Os altos sacerdotes utilizam suas máscaras durante todas as festividades representando uma comemoração teatral de suas divindades e ancestral, mostrando o conceito básico que a terra pertence aos antepassados. Uma colheita próspera depende da bênção deles e do testemunho do Ser Supremo. Observem que não estou representando diretamente os Òrìsà ou Olódùmaré simplesmente por estar falando de várias tribos e cidades diferentes de toda África. Os ritos funerários e o culto de espíritos ancestrais estão entre os rituais mais difundidos no mundo. Estes cultos são relacionados a uma larga variedade de ocorrências extremamente importantes, como a fertilidade da terra, seus animais e seres humanos. Os africanos acreditam que aqueles que morrem e são enterrados, fertilizam a terra com suas almas. Sendo assim, a terra pertence a eles, os antepassados, que são invocados para comemorar junto com seus familiares à harmonia do presente momento. Eles são vestidos com belas roupas que seriam preparadas justamente para o momento do retorno após a morte, como também utilizam as máscaras que simbolizavam suas identidades dentre os outros membros da comunidade. Para as sociedades secretas, os ritos de passagem acontecem quando um homem se move de um ciclo a outro em suas fases da vida. Nenhuma transição é mais importante que a passagem de adolescente para adulto, lhe dando direito de se tornar um sócio responsável da sociedade. As Máscaras que são usadas nas sociedades secretas servem para manter em segredo várias cerimônias de iniciação.

Há vários tipos de sociedades secretas, mas o propósito principal delas é manter as leis e o exercício de controle social e político em cima das atividades comunitárias. Podemos concluir que as máscaras são símbolos que ilustram pessoas diferentes em diversas partes de sua cultura, estando presente no nascimento, adolescência, maioridade, matrimônio e morte. Embora estas passagens são semelhantes em toda natureza, nossas interpretações destes rituais ou cerimônias mostram que sempre esteve bem centralizada a formação social africana que até hoje continua mascarada para muitos outros povos.

Texto de:

Awò Fagbenusola - Sacerdote da Indigenous Faith of African Tradition, Isin Egúngún ati Orò.

Responsável pela Ègbé Awò Omo Egúngún Onífe. Maricá / RJ - Brasil



As Máscaras nas Sociedades Africanas

Os domínios de intervenção

A máscara não é, na realidade, esta figura esculpida que costumamos ver, ela é uma personagem, um ser que representa por sua vez, uma divindade e uma força da sociedade humana. No momento em que alguém a enverga, seu portador está investido dos atributos reconhecidos de certa força divina ou social.

A máscara resulta numa variedade de domínios de intervenção que atesta a variedade de suas funções. Podemos distinguir quatro domínios de intervenção.Á máscara intervêm nas cerimônias de iniciação, nos ritos ligados ao nascimento e nas cerimônias funerárias; ela pode também dirigir os ritos de adoração. Nesse domínio estritamente religioso, as máscaras servem de proteção contra os espíritos maléficos e desempenham um papel de intermediários entre os deuses e os homens.A máscara regula os litígios da paz e da Guerra e suas decisões são então irrevogáveis; no plano estritamente político as máscaras dão as diretrizes políticas aos responsáveis pelos destinos da comunidade; enfim asseguram a segurança das vilas e funcionam como policias das cidades. São ainda os mascarados que trocam informações em caso de necessidade.
A máscara desempenha um papel na vida económica porque deve velar pelo bom desempenho das semeaduras e das colheitas, intervir para apaziguar os deuses no caso das calamidades naturais que poderiam prejudicar a vida agrícola e ameaçar a sobrevivência da comunidade.

As representações, as festas contam ainda com as máscaras para as danças, o canto e os desfiles mascarados. Estes domínios de intervenção correspondem ainda a funções sociais importantes desempenhados pelos mascarados. Mas cada função pede um tipo de máscara apropriada e a hierarquia das funções corresponde a uma hierarquia das máscaras. A função fundamental é de manter a ordem.

A máscara é encarregada de manter a ordem do mundo, das sociedades e das famílias. A máscara intervêm para regularizar a ordem cósmica, ameaçada pelos interditos contra as leis sociais e naturais. Em face das calamidades naturais e das catástrofes humanas, as máscaras ordenam os sacrifícios para reparar os efeitos das transgressões que são a causa de todos esses males.

Elas devem também velar pela rectitude dos modos sociais e manter os interditos que fundam a estrutura das famílias e das cidades.

Enfim as máscaras de sabedoria ou grandes máscaras decidem por derradeiro as causas que a justiça comum não consegue regular. Sua intervenção nos problemas da guerra ou da paz visa também preservar a ordem social. Mas uma questão nos vem ao espírito: porque a necessidade de recorrer à máscara para assegurar a unidade social?

Para manter a ordem na sociedade e no mundo, os homens tem tido a necessidade da autoridade dos deuses, dos espíritos e dos ancestrais. As máscaras encarnam os depositários naturais e sobrenaturais de autoridade. Elas funcionam como os fundamentos da lei, fonte da ordem e da energia. Assim, a sacralização da autoridade através de sua investidura (da máscara) torna-se um meio de assegurar a legitimidade e a energia necessária. As máscaras aparecem então, em última análise, como aparelhos ideológicos da sociedade tradicional africana que asseguram a conservação da ordem natural e a procura do equilíbrio e da luta contra a anarquia. Elas exprimem também a situação das sociedades que procuram não romper a continuidade primordial entre o mundo dos homens e o dos deuses, entre o natural e o sobrenatural.

Tradução livre do francês pelo Prof. Dr. Sérgio Paulo Adolfo – Tata Kiundundulu

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