quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cultura Iorubá - lendas e tradições - Orixá Ògún (Ogum)


Orisa Ògún (Ogum)

Ògún é o orixá da guerra e do ferro. Todos precisamos de Ògún para sobreviver, porque a todo momento usamos ferro para comer, trabalhar, locomover. Além de orixá também é considerado mensageiro.

Diz a tradição que Ògún é filho de Tabùtú e Oróninnà. Sua cidade original, para onde foi quando todos os orixás desceram do céu, é Ile Ife. Era um dos mais importantes caçadores. O que mais gostava de fazer era caçar. Daí sua estreita relação com Osoosi. Todos os objetos que Osoosi usa para caçar são oriundos de Ògún.

Conta a história que há muito tempo, quando os orixás desceram para a Terra, encontraram no meio do caminho uma mata cerrada que não dava para ninguém passar. Orisa'nlá, que vinha à frente, adiantou-se para abrir caminho, mas sua faca de prata, que era muito frágil, quebrou-se. Ògún, com sua faca de ferro que corta tudo, conseguiu abrir caminho na mata para todos passarem.

Por esse motivo, quando desceram à Terra, Ògún recebeu em Ile Ife os títulos de Omo Osin - pessoa importante da cidade, e Osin Imole - importante entre os orixás. Entretanto não quis ser coroado rei, preferindo usar apenas uma pequena coroa de ferro de nome akòró. Por isso chamasse Ògún de Alakòró – dono, ou aquele que usa akòró.

Como gostava muito de lutar e caçar, um dia foi para o alto de uma montanha (orioke), onde havia uma pedreira e uma floresta. Por muito, muito tempo ele ficou no alto da montanha caçando. Depois de vários meses, já cansado, resolveu voltar a Ile Ife.

A vida na floresta, o isolamento e a convivência com os animais tornaram-no um homem bruto. Além disso, estava todo sujo, vestido com mariwo, coberto de sangue dos animais que matara. Ao descer a montanha foi descrito por alguns Babalawo:

Ojo Ògún nti orioke nbo,
Aso ina lo mu bora
Ewu eje lo wo sorún...

(no dia em que Ògún desceu a montanha, vestia uma roupa de fogo, estava coberto de sangue...)

Esse é um trecho de seu Oriki mais conhecido.

Em vez de ir para sua cidade, mudou de rumo e foi a para Ire, em Ekiti, estado de Ondo. Lá foi muito bem recebido, deram-lhe comida e bebida. A cidade estava em guerra e Ògún conseguiu livrá-la dos inimigos. Por esse motivo foi aclamado como Onire - dono da cidade de Ire, nome até hoje usado como qualidade de Ògún, tanto na Nigéria quanto no Brasil.

A festa de Ògún na Nigéria é realizada uma vez por ano, e dura sete dias. Os preparativos começam em julho e a festa é realizada em agosto. Vale dizer que ògún em iorubá quer dizer agosto. No dia da festa todas as pessoas que lidam com metais (motoristas, ferreiros, joalheiros) fazem suas oferendas e obrigações para Ògún.

No local destinado ao assentamento de Ògún coloca-se ferro e pedra. Na Nigéria sua comida predileta é cachorro (aja). Come também galinha, obi, cará assado, iyan (purê de cará) e epo. Sua bebida específica é emu (vinho de palmeira).No seu assentamento coloca-se ada (facão), oko (enxada), dinheiro, búzios e mariwo.

Esse local deve ficar ao tempo, dentro ou fora da cidade, no meio de um campo. Em geral no meio de cada cidade há um lugar específico destinado às matanças e obrigações para Ògún no dia da sua festa. A família que desejar pode também ter um local próprio para cultuar Ògún em sua casa. Há dois tipos específicos de tambor para bater para Ògún: bembe e kalakolo.

No dia da festa é feita uma prece, lembrando os mortos daquele ano. Em seguida são ofertados os sacrifícios em nome de todas as pessoas da cidade. Depois há um toque de atabaque, que é o sinal indicando que todos já podem fazer suas obrigações individuais, ao final das quais festejam com danças, muita comida e bebida. Todos os animais sacrificados são comidos pelos participantes da festa. Na abertura da festa é feita uma prece, relembrando todos os mortos daquele ano.

Os caminhos de Ògún são sete (meje) e daí a confusão de, no Brasil, ser dado o nome de Ògún Meje como uma qualidade. Na Nigéria temos:

Alara - come cachorro e toma conta da cidade;

Onire - dono da cidade de Ire, come carneiro;

Ikola - que faz curas (marcas) e come igbin;

Elemoná - come cará assado;

Gbenagbena - é escultor e come cágado;

Akirún - no assentamento leva chifre de carneiro;

Makinde - dono da ferrugem. Fica do lado de fora para fazer o mal, do outro lado da divisa das cidades, ou atrás dos muros das casas.

As cidades nigerianas onde se festeja Ògún são Ondo, Ilesá, Akurs e Ekiti.

Texto extraído do livro: "Cultura Iorubá" de Maria Inez C. de Almeida, 2006

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