sábado, 17 de julho de 2010

O trabalhador do Umbral


O Trabalhador do Umbral


Partes da obra psicografada por Pablo Salamanca em 2007, á qual deu o nome "O Trabalhador do Umbral" :


"...Quanto ao actual livro em lançamento, “O Trabalhador do Umbral”, sua história começou em outubro de 2003, com duas mensagens em forma poética. A princípio, eu não entendi claramente que haveria uma sequência de poesias do espírito comunicante. No entanto, com a continuidade do processo, logo percebi que era mais um livro em formação.
Achei muito interessante o conteúdo das mensagens, que eram narrativas de trabalhos realizados em áreas inferiores do Plano Astral, mais comumente conhecidas por “Umbral”. Também percebi que, como no caso do espírito “Poetinha”, a entidade “Trabalhador do Umbral” não tinha intenção de revelar sua identidade. Isto, para mim, é questão secundária. O que realmente vale é o conteúdo comunicado.
Contudo, em 14 de novembro de 2005, o “Trabalhador do Umbral” manifestou-se através da psicografia para se apresentar de forma um pouco mais detalhada, o que transcrevo a seguir.


Apresentação do "Trabalhador do Umbral"

Boa noite a todos! Sim, dou boa noite porque estou acostumado a permanecer em locais onde os raios solares não penetram plenamente. Eu sou o Trabalhador do Umbral. Realizo minhas tarefas em ambientes quase sempre francamente hostis. Isto é fruto do meu passado espiritual, quando tive boas oportunidades de fazer o bem, mas preferi dar vazão aos instintos, ao egoísmo e ao orgulho. Hoje, e já há muitos anos terrestres, procuro reequilibrar as acções negativas do passado, com a execução de trabalhos positivos, onde espíritos plenamente regenerados não merecem estar por longos períodos.
Eu ainda suporto bem as vibrações de ódio, angústia e revolta que predominam nos planos astrais inferiores. De tempo em tempo preciso subir a determinada cidade espiritual, para restabelecimento das minhas energias e retornar à tarefa com força e equilíbrio. Estou em processo de regeneração, necessitando ainda burilar certas arestas do meu ser, muito embora, posso afirmar que não me entregaria mais às forças da estagnação. Tenho o firme propósito de servir ao Pai Maior, sem novas capitulações.
Mais à frente, o teor dos trabalhos que realizo ficará exposto com maior detalhe, porém não tenho autorização para explicar certos mecanismos de acção no presente momento. O objectivo desta obra é mais para despertar e alertar aos encarnados sobre a Lei de Causa e Efeito, do que esmiuçar tecnicamente formas de actuação no Umbral.
Algumas pessoas poderiam perguntar porque transmiti as mensagens poeticamente, e não de maneira mais directa, através da prosa. Eu, de antemão, respondo que para traçar um conteúdo muitas vezes obscuro e doloroso, nada melhor que a poesia para demonstrar que, mesmo errando, estamos aprendendo, e que não há pecado mortal ou penalizações eternas. Sempre haverá um novo porvir, uma nova chance para resgatar falhas e encontrar o caminho da evolução, mesmo que estejamos aprendendo ao cair, ou caindo durante o aprendizado. A dor física ou moral são excelentes remédios para a regeneração de nossos espíritos. Por mais que sejam amargas, quando desejamos prová-las, uma boa lição podemos colher delas.
Portanto, a forma poética que utilizei, é para destacar que, mesmo do amargo de experiências desastrosas, se extrai o doce do aprendizado. Além disso, caros companheiros de jornada, já fui um menestrel numa de minhas andanças pelo plano terreno. Aprendi a usar rimas com objectivos galantes e menos sóbrios. Hoje, utilizo esta capacidade que adquiri, para ajudar a conquistar a meta de um mundo melhor, mesmo entendendo que a parcela relativa aos meus esforços seja de ordem ínfima.
Ao Pai Celestial cabe, verdadeiramente, o mérito do equilíbrio universal e da evolução.
Neste momento, desejo ainda agradecer ao meu guia espiritual por esta oportunidade de compartilhar o que tenho aprendido, através do trabalho de servir a Deus em meio às trevas. Despeço-me, desejando ser útil.


UMA VIDA PASSADA


I

Minha vida em Salamanca
Foi um grande tempo “perdido”.
Era homem orgulhoso e cheio de banca.
Caminhava, louco, por uma vida sem sentido.

II

Minha tarefa era combater.
Seguia as ordens de um mestre instintivo,
Cujo objetivo era vencer e vencer
Qualquer um que lhe fosse inimigo.

III

Eu era apenas um capataz,
Ligado a castelo antigo.
Nos reduzidos períodos de paz,
Ficava angustiado ou deprimido.

IV

Preferia a guerra
E as emoções do perigo.
Gostava de ver o sangue manchar a terra
E os adversários com olhos mortiços.

V

Eu era pobre besta humana,
Conduzido como gado iníquo.
Fazia coisas insanas,
Frutos de um raciocínio oblíquo.

VI

Hoje, sou um trabalhador feroz!
Feroz na luta pelo Bem!
Sou contra toda injustiça atroz
E me solidarizo com os que nada tem.

VII

Caminho ainda na escuridão,
Que reina no submundo astral.
Porém, trago luz em meu coração
E muita vontade de transformar o mal.

VIII

Conduzo irmãos ignorantes,
Violentos como eu fui.
Em verdade, são espíritos infantes,
Com pobres mentes beligerantes.

IX

Realizo com alguma alegria
Este meu resgate espiritual.
Despeço-me, esperando votos de simpatia.
Sou o Trabalhador do Umbral.

20 de outubro de 2003.



ACIDENTE FATAL


I

Muito sangue derramado
À beira da estrada vazia.
Um corpo estava estirado,
Ausente, por completo, de energia.

II

A alma imortal estava do lado,
Impactada, em letargia.
Eu, então, fora chamado.
Encaminhá-la eu deveria.

III

Foi um acidente isolado.
Agora, já amanhecia.
O espírito que estava deitado,
Despertava em agonia.

IV

Seu nome era Alceu.
Eu, muito bem, já o conhecia.
Um alcoólatra inveterado!
Naquele momento, desencarnado.

V

Seu corpo espiritual
Estava bastante macerado.
Sentia, ele, todo o mal
De um viver desregrado.

VI

Balbuciava um pedido de socorro.
Eu tentava lhe ajudar,
Mas estava cercado por corvos.
Eram os obsessores, ali para lhe subjugar.

VII

Eu permanecia invisível,
Em outra faixa vibratória.
Deveria fazer o possível
Para abrandar aquela triste história.

VIII

Enviei-lhe energias calmantes.
Sua alma estava arrependida,
Mas os obsessores eram beligerantes
E cobravam antiga dívida.

IX

Tive que me afastar,
Esperando um melhor momento.
Seus inimigos o levavam para um bar,
Para lhe aumentar o sofrimento.

X

Queriam chafurdá-lo mais
Na lama do profundo vício,
Tornando-o muito incapaz
De buscar a verdadeira paz.

XI

A beberragem anestesiaria
A sua memória do acidente.
Em breve seria um indigente,
Após a aplicação de uma hipnose potente.

XII

Se esqueceria até de si mesmo.
Tornaria-se um andarilho inconsciente.
Perderia anos e anos a esmo.
A vingança seria inclemente.

XIII

Alceu tinha ficha kármica pesada,
Mas eu poderia evitar o pior.
Fiz uma oração concentrada,
Pedindo auxílio ao Mundo Maior.

XIV

Apresentaram-se dois conhecidos tarefeiros.
Traçamos rapidamente um plano.
Materializamo-nos, ligeiros,
Vestidos em “rotos panos”.

XV

Entramos, no imundo bar do Astral,
Como três pobres mendigos.
O momento era crucial,
Naquele ambiente de desatinos.

XVI

Queriam forçar Alceu a beber.
Ele estava muito confuso.
Nós sabíamos o que fazer
E agimos como seres obscuros.

XVII

Simulamos uma briga entre nós,
Chamando, de todos, a atenção.
A balbúrdia se espalhou pelo salão,
Como o fogo no mato seco do sertão.

XVIII

Retiramos o miserável infeliz
Com muita dificuldade.
A misericórdia, para ele, Deus quis.
Mas confesso, que o sucesso foi por um triz.

XIX

Alceu foi para um hospital
E está em regeneração.
Espera por futura reencarnação,
Com dores e muita provação.

XX

Cumprida foi mais uma missão,
Em pleno submundo astral.
Satisfeito, fiquei eu:
O Trabalhador do Umbral.

23 de julho de 2004.



DÁLIA


I

A moça era um encanto
E tinha nome de flor.
Dália era filha de Jorge, um “Pai-de-Santo”
Muito arrogante, que tinha por ela grande amor.

II

Moçoila vaidosa, mas com boas virtudes,
Dália vivia a sonhar,
Com futuro sem vicissitudes
E bom homem para levá-la ao altar.

III

Seu pai era ciumento
E dava-lhe rígida educação.
Vigiava-a em todos os momentos,
Com cuidadosa e grande atenção.

IV

Mesmo em dia de sessão,
No seu templo umbandista,
Jorge a tinha sob sua visão,
Protegendo-a com toda a força do seu coração.

V

Dália possuía dezoito anos
E era bastante estudiosa.
Já fazia muitos planos.
Seria professora e escreveria em verso e prosa.

VI

Um moço gostava dela
E ela nem desconfiava.
Era Roberto, rapaz de vida singela,
Que sempre quando possível a admirava.

VII

Roberto era trabalhador braçal
E tinha boa roça em sítio formoso.
Sua ligação com ela era espiritual.
Ele esperava ter, com Dália, um futuro ditoso.

VIII

Para se aproximar mais,
O pretendente passou a freqüentar o templo.
Tinha esperança, o rapaz,
De que chamar-lhe a atenção seria capaz.

IX

No entanto, Jorge percebera a manobra.
Sempre via o jovem nos cultos,
Observando Dália em diversas horas.
Era o primeiro a chegar e o último a ir embora.

X

Jorge conhecia, de Roberto, a procedência.
Não era o melhor para a sua filha,
Ainda pura e cheia de inocência.
Pensava isto, Jorge, com impaciência.

XI

Ele tinha preconceito
E corroía-lhe o ciúme.
Planejou realizar um “trabalho” bem feito,
Como era de costume.

XII

Apelaria à magia negra
Para afastar mais aquele rapaz.
Não dormiria em paz,
Antes de entregá-lo ao seu feroz capataz.

XIII

Iria ao cemitério
Chamar a entidade voltada ao mal,
Através de nefando ritual,
Evocando-o do Umbral.

XIV

Dália não tinha noção
Do desequilíbrio de seu pai.
Amava-o com respeito e devoção.
Nunca lhe dissera um não.

XV

A moça mal percebera Roberto,
O jovem de boa aparência
E semblante também esperto,
Que no templo a vigiava com insistência.

XVI

Jorge então selara o negativo pacto.
Tinha confiança no pleno sucesso.
O resultado seria de impacto.
O rapaz sumiria. Isto era certo!

XVII

Porém, o resultado não foi o esperado.
Roberto, de fato, sumira.
Soube-se que fora fatalmente vitimado.
Sofrera grave acidente e já fora sepultado.

XVIII

Jorge ficou muito surpreso
E lamentou o terrível desfecho.
Não era isso que desejava.
Ficou quase em desespero.

XIX

Procurou esquecer o fato,
Imaginando que não seria culpado,
Embora sua consciência
O acusasse com veemência.

XX

Em breve, notou diferença
No comportamento da filha.
Também a sua saudável aparência
Tornou-se, pouco a pouco, doentia.

XXI

Era a presença de Roberto
Junto ao seu objeto de amor.
A morte súbita o deixara em torpor.
Apenas queria amá-la com fervor.

XXII

Jorge tudo tentou
Para salvar sua filha amada:
Orações, remédios, gemadas
E invocações no cemitério e nas encruzilhadas.

XXIII

Recorreu até a famosos doutores,
Acreditando na ajuda da medicina.
Ineficazes eram seus favores!
Jorge estava perdendo a sua menina.

XXIV

Eu nada podia fazer.
Se cumpria um resgate espiritual.
A moça já estava prestes a perecer.
Eu apenas esperava no Plano Astral.

XXV

Quando veio o desenlace,
Ficaram os dois em desequilíbrio,
Unidos como gêmeos que nascem
Grudados, de forma sofrível.

XXVI

Tarefeiros encaminharam o casal
Para um hospital espiritual.
Dentre eles estava eu,
O Trabalhador do Umbral.

Junho de 2005.



O PAI-DE-SANTO


I

- Saravá, meu filho! Deixa o seu guia descer!
Dizia Agenor, o “pai-de-santo”,
Ao ingênuo rapaz em pranto,
Pois achava que ia morrer.

II

Eu apenas observava
A cena lamentável:
O jovem se curvava
Ao obsessor deplorável.

III

Estávamos num Centro Umbandista,
Onde predominava a perturbação.
O dirigente, nada realista,
Não percebia a quase possessão.

IV

Cobrava muito dinheiro,
Esquecendo-se da caridade.
Por isso, afastara-se o caboclo guerreiro,
Seu guia na Espiritualidade.

V

Acreditava ter digna assistência
Dos bons espíritos de luz.
Mas, estava quase na indigência
Devido ao vil metal, que tanto seduz.

VI

Prosseguia o “desenvolvimento mediúnico”.
O jovem, agora, estava com o rosto no chão.
Enquanto isso, o “pai-de-santo” se julgava único
Em força, sabedoria e persuasão.

VII

Ele, então, ordenou com confiança:
- Apruma o seu aparelho!
Mas a entidade acoplada, apenas lhe balança
O tórax, os quadris e os joelhos.

VIII

O rapaz formava um quadro estranho,
Com a cabeça ainda no solo.
Agenor disse: - Vou lhe receitar uns banhos!
E ele já calculava, em pensamento, os ganhos.

IX

Logo a seguir, interferi
Naquela péssima manifestação.
Irradiei, com decisão,
Uma energia para a separação.

X

Se incomodou, embora não me visse, o obsessor.
Ele era poderoso vampiro espiritual.
Então afastou-se do pupilo de Agenor,
Que ainda se sentia mal.

XI

Minha tarefa naquele lugar
Era semelhante a de um bombeiro,
Que corre para incêndios apagar,
Não sabendo a que horas poderá descansar.

XII

Eu estava ali há meses,
Tentando alertar o Agenor
Para desistir de seus infelizes interesses,
Antes que lhe atingisse terrível dor.

XIII

O rapaz, agora desperto,
Cansado muito estava.
O pai-de-santo, muito esperto,
Somente o estimulava:

XIV

- Que beleza meu filho!
- Você tem um excelente guia!
Em verdade, sua saúde estava por um fio,
Devido à proximidade da terrível energia.

XV

Era uma sexta-feira.
Aquilo não continuaria mais.
As orientações sem eira nem beira
Terminariam, com muita gente alcançando paz.

XVI

Na manhã de domingo
Agenor acordou, passando mal.
Aneurismas na cabeça, em número de cinco,
Davam-lhe um doloroso sinal.

XVII

Estava em andamento um derrame cerebral.
O homem, agora, muito sofria.
Ele se perguntava o que ocorria afinal,
Enquanto a sua força se esvaía.

XVIII

Só despertou no hospital,
Com uma parte do corpo paralisado.
Ele se questionou: o que havia feito de mal,
Para ficar naquele estado?

XIX

Finalmente fazia uma autocrítica.
Tentava entender a situação,
Do porquê da sua limitação física.
Seria um castigo pela sua má atuação?

XX

Enfim, recordava suas espertezas.
Quanta gente havia enganado!
Em vez de alegrias, espalhara tristezas,
Em troca dos lucros embolsados.

XXI

Após longo tempo internado,
Voltaria para sua casa.
Estava praticamente aleijado
E também perdera a fala.

XXII

Na primeira noite em sua residência,
Ajudei-lhe num desprendimento espiritual.
Fui clarear a sua consciência,
Fazendo-o discernir o que fizera de bom ou de mal.

XXIII

Depois de longa conversação,
Disse a ele que não recebera castigo.
Apenas funcionara a Lei de Ação e Reação,
Em resposta a seus muitos desatinos.

XXIV

Agenor viverá por anos nesta situação,
Para entender a verdadeira humildade.
Na próxima reencarnação,
Renascerá com muitas dificuldades.

XXV

Ajudei vários de seus pupilos
A encontrar segura orientação.
Quase todos sofriam a ação de vampiros,
Que sugavam suas energias e a boa razão.

XXVI

Foi uma tarefa muito difícil,
Mas cheguei a bom termo no final,
Evitando piores malefícios.
Aqui se despede, o Trabalhador do Umbral.

12 de setembro de 2005.



A TRANSFORMAÇÃO


I

Estava em pleno Umbral,
Conversando com uma entidade,
Que fazia o bem ou o mal,
Desde que fosse “pago” pela atividade.

II

Há tempo que eu o observava,
Já sabendo da oculta verdade:
Estava se enojando da maldade,
Aspirando a uma nova liberdade.

III

Tinha dificuldade em admitir,
Pois sua fama era antiga.
Barreiras deveriam cair,
Para que deixasse a sua rotina.

IV

“Trabalhava” em um local,
Onde, num médium, incorporava.
Recebia “presentes” para que o seu punhal
Fosse utilizado, nas sombrias madrugadas.

V

Provocava disputas,
Discussões ou resolvia problemas,
Quase sempre em meio a duras lutas.
A satisfação do “cliente” era o seu lema.

VI

Às vezes, era chamado para levantar um doente
Ou recuperar o movimento de uma loja.
Ajudava do seu jeito inclemente,
Mesmo quando sob dura prova.

VII

Era espírito endurecido.
Quando diante de difícil tarefa,
Não aceitava ser vencido.
Nesta situação, convocava obscurecidos colegas.

VIII

Sabia atuar em grupo
E tinha sua própria falange.
Fazia um plano, através de detalhados estudos,
Quando o “trabalho” era muito grande.

IX

Contudo não pedia, o seu coração,
Que continuasse em tão dura refrega.
Desejava respirar em ar mais puro e são,
Onde a verdadeira lealdade impera.

X

Já o tinha, outras vezes, abordado.
Ele compreendera a minha intenção.
Eu queria apenas ajudá-lo
A encontrar roteiro de redenção.

XI

Disse-lhe que, à frente, receberia novo trabalho
Nos meandros do submundo astral.
Atuaria bem disfarçado,
Desfazendo os caminhos que havia traçado.

XII

Expliquei que eu era da “banda” do Cordeiro,
De onde provinha mais energia e luz.
Mas ele, entre esperançoso e matreiro,
Ainda queria testar a força que vinha de Jesus.

XIII

Pediu-me que o acompanhasse
Até o mundo material.
Visitaríamos uma doente mental,
Que ele amava, mas não podia curar o mal.

XIV

Eu já sabia de sua “oculta” intenção.
Queria ajudar a moça obsidiada,
Alma muito querida, agora reencarnada.
Era um ser precioso para o seu coração.

XV

A bela criatura era bastante endividada.
Na carne, ainda em tenra idade,
Estava sendo duramente assediada
Por entidade deformada.

XVI

Antes, ele tentara libertá-la em vão.
Mesmo com a ajuda de seus parceiros,
Fracassara, com grande decepção,
Em libertá-la da obsessão.

XVII

O espírito, com estranha deformidade,
Estava acoplado firmemente
Ao corpo da jovem beldade,
Que, ao mundo, era indiferente.

XVIII

Expliquei-lhe sobre a Justiça Divina,
Que permitia tal associação
Entre o disforme e a moça-menina,
Resultante da Lei de Ação e Reação.

XIX

Prometi-lhe o auxílio da Providência,
Pois, disso, eu já estava informado.
Era o momento do socorro, com diligência,
Para aqueles espíritos serem desacorrentados.

XX

Partimos, em silêncio, através do Umbral.
Pedi-lhe para apenas observar
Como o bem transformaria o aparente mal.
Assim, talvez ele se convencesse a se renovar.

XXI

Chegando em jardim de casa singela,
De família com recursos limitados,
Já podíamos vê-la, sentada próximo a uma janela.
Tinha os olhos no vazio, meio esbugalhados.

XXII

Diagnosticaram, os médicos da terra,
Uma espécie de autismo.
Mas, a verdade era
Que tinham dúvidas e não havia otimismo.

XXIII

Adentramos a humilde casa,
Onde se postavam dois médicos espirituais.
Há dias esperavam a minha chegada,
Para executar a tarefa previamente marcada.

XXIV

Minha participação seria como a de um enfermeiro,
Naquela delicada situação.
Oramos, com fervor, primeiro.
Em seguida, começaríamos a ação.

XXV

Meu acompanhante estava algo espantado,
Com a luz que desceu sobre nós.
Contudo, ficou mesmo estupefato,
Quando percebeu que já não estávamos a sós.

XXVI

Parecia pura mágica!
Do aparente nada, surgiu uma grande equipe
Para resolver aquela situação quase trágica.
E quantos técnicos de alta estirpe!

XXVII

Então, a moça fora induzida a se deitar.
Agia sua mãe material, por nós inspirada.
Uma cirurgia iria se realizar,
Para que uma boa meta fosse alcançada.

XXVIII

Após um tempo, não pequeno,
Tudo estava terminado.
A moça tornara-se livre no plano terreno.
No Plano Astral, havia um espírito transformado.

XXIX

Enquanto o deformado, inconsciente, era levado
Para um hospital espiritual,
O candidato à luz, em lágrimas, estava ajoelhado.
Dizia que nunca mais faria o mal.

XXX

Amparei-lhe com energia,
Explicando o futuro da jovem.
Ela, vagarosamente, melhoraria.
Seria acompanhada de perto, até segunda ordem.

XXXI

Ao longo do tempo, despertaria
De seu mundo tão pessoal.
Para a convivência terrena desabrocharia,
Com boas chances de uma vida normal.

XXXII

Então levei Fausto (este era o seu nome)
A uma grande jornada, para ele, sem igual.
A partir daquele momento, seria novo homem,
Com a ajuda do Trabalhador do Umbral.

05 de outubro de 2005.



MARIA DOS FARRAPOS


I

Eu estava sob a luz da lua
Em baixa cidade do Astral.
Lá havia uma mulher praticamente nua,
Em profundo desequilíbrio espiritual.

II

Cobriam, seu corpo sutil, frangalhos.
Sorria de forma anormal.
Seus olhos eram esbugalhados.
Este era o resultado da sementeira no mal.

III

Seus pensamentos eram fixos
Em imagens de teor sensual.
Não se lembrava do Cristo.
Transformação interior não era sua meta final.

IV

Vivera para as sensações,
Em função do seu corpo material.
Precisava sempre de pesadas emoções
Para preencher seu vazio mental.

V

Não aceitara estudar,
Embora boa chance houvera.
Tivera bons pai e mãe para lhe ajudar.
Contudo, nunca respeitá-los quisera.

VI

Infeliz mulher enlouquecida!
Agora, era tenaz espírito obsessor.
Acompanhava, na Terra, jovem semi-enceguecida,
Que ainda não entendia a vida e o seu real valor.

VII

Flora, assim, era perseguida.
Estava despertando muito cedo a sua libido.
A pobre moça-menina tinha vida sofrida
E estava correndo real, mas oculto, perigo.

VIII

Não sabia de onde vinham aqueles pensamentos.
Pareciam não pertencer a si.
A moça da favela, em quase todos momentos,
Passava por tentações e tormentos.

IX

Flora tinha treze anos de idade.
Em vida passada, perdera-se na prostituição.
Tentava agora, sem falsidade,
Encontrar o caminho da recuperação.

X

Mas a mulher vestida de trapos,
Antiga companheira de sofreguidão,
Queria reduzir a frangalhos
A sua atual resolução de transformação.

XI

Portanto, minha missão era difícil.
Com certeza, havia grande ligação
Entre a jovem e a alma cheia de vício,
Que tanto desejava o prazer e a sensação.

XII

Flora, às vezes, buscava a religião.
Tentava, em vão, amortecer
A turbulência em seu coração,
Através de momentos de oração.

XIII

Sentia que devia se afastar
Do caminho que se apresentava.
Mas, até mesmo faltava
Bom ar para respirar.

XIV

O ambiente de sua vida
Era muito pouco são.
Sua mãe era alma sofrida
E, seu pai, um alcoólatra folgazão.

XV

Eu necessitava de boa estratégia
Para encontrar uma solução.
Precisava evitar uma tragédia,
Naquela família em dissolução.

XVI

Seu pai ficou gravemente doente.
O fígado quase não mais trabalhava.
Aquele homem, tão descrente,
Estava muito próximo da derrocada.

XVII

A mãe não sabia o que fazer,
Sem os trocados que o marido amealhava.
Não podia mais, o ofício de pedreiro, exercer.
Assim, ela estava quase desesperada.

XVIII

Então atuei em sua mente,
Sugerindo-lhe uma solução:
Deveria empregar sua filha adolescente,
Para ajudar a ganhar o bendito pão.

XIX

Eu conhecia luminosa pessoa,
Que poderia bem ajudar.
Era alma realmente muito boa,
Prestativa e sempre pronta a amparar.

XX

Consegui, sem muita demora,
Que a mãe de Flora fosse lhe procurar,
Num centro espírita consagrado à “Nossa Senhora”,
Que dirigia com amor e força para disciplinar.

XXI

Através de breves acertos,
Decidiu-se que Flora ficaria ali para faxinar.
Embora a menina tivesse alguns receios,
Logo percebeu que era um bom lugar.

XXII

Passou a ganhar o pão material,
Mas benefícios maiores estavam por chegar.
A dirigente convidou-a para um culto espiritual,
Onde cresceram suas esperanças em melhorar.

XXIII

Sentira que uma nova vida se abria
À visão da sua mente.
Os doces ensinamentos que ouvira,
Tornaram-se uma boa semente.

XXIV

Mas, uma parte difícil me cabia.
Era encaminhar o espírito doente,
Que acompanhava a Flora moça-menina,
E que, agora, estava muito descontente.

XXV

Ela se autodenominava Maria,
“A poderosa Maria dos Farrapos”!
Então, prometera que transformaria
A vida da jovem em frangalhos.

XXVI

Em noite de lua cheia,
Fui à casa de Flora,
Que dormira logo após a uma breve ceia.
Eu deveria agir sem demora.

XXVII

Próximo a seu vaso físico, em repouso,
Estava a entidade obsessora.
Gritava para que o seu espírito saísse do corpo.
Queria intimidar e, à prova, pô-la.

XXVIII

Eu intervi rapidamente,
Materializando-me de supetão.
Surgi bem em sua frente,
Causando surpresa e irritação.

XXIX

Disse-lhe que representava
Uma força de mais alto,
Estando ali para ajudá-la,
Naquele momento incauto.

XXX

Perguntou-me se eu era juiz,
Se sabia da real situação.
A jovem, segundo ela, sempre fez o que quis
E lhe era devedora, desde outra encarnação.

XXXI

Então dirigi-me, resoluto, à infeliz.
Utilizei forte argumentação,
Demonstrando que os erros têm como matriz
A falta de amor e a ausência do perdão.

XXXII

Apontei fatos de sua última vida,
Que caracterizavam a sua má conduta.
Remexi antigas feridas,
Que amorteceram o seu vigor naquela disputa.

XXXIII

Ela não quis admitir seus erros,
Preferindo fugir da situação.
Escondeu-se no baixo Astral, em feios becos,
Sem compreender a melhor solução.

XXXIV

Eu havia lhe oferecido
Nova vida, em menos denso plano espiritual.
Trabalharia, sem se expor a maior perigo,
Se preparando para uma nova encarnação, afinal.

XXXV

Para aquele espírito empedernido,
Não era fácil decidir.
Vivera em dissolução por tempo indefinido
E os velhos apegos não permitiam melhor porvir.

XXXVI

Contudo, senti que a havia atingido.
Percebi, nela, uma nesga de esperança.
Em minha mente surgiu um plano conciso,
Que, mais à frente, resultaria em bonança.

XXXVII

No entanto, sabia que ela iria retornar
À procura de Flora.
Esperaria eu me afastar,
Para assediar a menina em outra hora.

XXXVIII

Após três dias de afastamento,
Voltei a buscar a adolescente.
Neste período, houve bom planejamento
Para encaminhar a entidade doente.

XXXIX

Maria já havia retornado,
Desejosa de continuar a obsessão.
Mas, seu espírito estava ressabiado.
Sentia que havia uma nova situação.

XL

Não era tão fácil influenciar Flora,
Que, agora, buscava mais forças na oração.
A moça estava esperançosa com a nova porta,
Que se abria para o seu coração.

XLI

O centro lhe dava a esperança,
Através de seus positivos ensinamentos.
Aos poucos, retornava uma alegria de criança,
Que crê no futuro, deixando de lado os medos.

XLII

Haveria, em breve, uma nova sessão.
Nela, ocorreria um trabalho especial.
Era a tarefa de desobsessão,
Muito bem feita naquela casa espiritual.

XLIII

Flora fora convidada,
Mas surgiu-lhe um aperto no peito.
Era Maria, muito transtornada,
Não sabendo bem o que seria feito.

XLIV

Faltando poucas horas para a reunião,
A adolescente sentira-se mal.
Eu, invisível à Maria, sustentei-lhe a resolução
De comparecer ao culto espiritual.

XLV

Chegando ao centro,
A jovem vomitou.
Mas, haviam muitos médiuns atentos,
Que logo perceberam a entidade e seu intento.

XLVI

Ajudaram à moça-menina,
Com passes de limpeza e de sustentação.
Maria, vestida em farrapos, estava ressentida,
Pois uma rede de energia já lhe tolhia a ação.

XLVII

Com os trabalhos iniciados,
Após bela e profunda oração,
O ambiente ficou todo magnetizado
Por poderosa vibração.

XLVIII

Até Maria se aquietou
Para ouvir esclarecedora explicação,
Oriunda do Evangelho que Jesus deixou,
Através dos seus atos de amor e de perdão.

XLXIX

Mais à frente, numa médium incorporada,
Maria apresentou-se em longo choro de mágoas.
Desfiava pérolas de uma angústia cansada,
Por meio de palavras muito amargas.

L

Depois do desabafo, sem calma,
Ouviu assertivas de esperança.
Contudo ainda existiam, em sua alma,
Muitas dúvidas e destemperanças.

LI

Foi necessário um tratamento magnético
À entidade ainda acoplada.
Retiraram miasmas extremamente maléficos,
Que embotavam o raciocínio de sua mente viciada.

LII

Após o impacto da irradiação,
Maria sentiu-se muito cansada.
Mas, ainda pôde manter uma conversação.
Logo aceitou, para um hospital espiritual, ser levada.

LIII

Depois de um período de recuperação,
Maria estava renovada.
Queria seguir um caminho de evolução,
Mas sua intenção deveria ser provada.

LIV

Então, entendeu que a reencarnação
Era meta fundamental na sua estrada.
Para isso recebeu boa e segura orientação,
Facilitando a sua nova jornada.

LV

Em breve seria recebida,
Com carinho e emoção,
Nos braços de Flora, já não moça e nem menina,
Em busca de sua redenção.

LVI

Minha tarefa estava terminada.
Agradeci profundamente ao Pai Celestial.
Retornei, feliz, à humilde caminhada
De um trabalhador do Umbral.

Novembro de 2005...."


Textos retirados do livro de Pablo Salamanca "O Trabalhador do Umbral", disponibilizado gratuitamente na internet pelo site: www.espiritualistas.org

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