Lei do Retorno - Lei da Consequência
(texto de autor desconhecido)
"Esta é uma Lei muito conhecida e de aplicação universal, irmã gémea da Lei do Renascimento. A Lei da Consequência toma diferentes nomes, segundo a sua aplicação. Na física, por exemplo, é chamada de "O Princípio de Newton" ou "lei de acção e reacção", assim enunciada: "uma força não pode exercer uma acção, sem, no mesmo instante, gerar uma reacção igual e directamente oposta", ou, por outras palavras, "toda causa gera um efeito correspondente".
Existem, pois, causas e efeitos. A causa é primária; o efeito é secundário. Só pode manifestar-se o efeito, se as causas entrarem em acção. Isto dá-se em tudo, por exemplo, no dar e receber. Dar é a acção; receber, a reacção inevitável. Tudo que recebemos, em quantidade e qualidade, está condicionado ao que dermos, porque o efeito ou reacção de receber pressupõe uma causa, uma acção: o dar. Lucas o Apóstolo, expressa-o muito bem: "Dai e dar-se-vos-á". (6:38).
Inúmeros outros exemplos da aplicação dessa lei universal encontram-se, na Bíblia: "o que o homem semear, isso mesmo colherá" (Gál. 6:7): "Procura primeiramente o reino de Deus e Sua Justiça e tudo o mais te será dado por acréscimo"; "Batei e abrir-se-vos-á"; "Pedi e dar-se-vos-á"; "Procurai e achareis".
É evidente. Acaso não sofremos perturbação digestiva se comemos demais?
O conhecimento e meditação desta Lei ensejam a tomada de consciência de todas as falhas e suscitam o propósito de nos esforçarmos para corrigi-las. Demais, passamos a compreender que somos os formadores do nosso destino e, portanto, assumimos consciente e progressivamente a responsabilidade dos nossos actos, deixando atrás a ideia de um Deus vingativo e a de atribuir aos outros, como fazíamos frequentemente, a causa dos nossos males e insucessos. Mostraremos adiante como efectuar eficazmente esse nobre esforço de regeneração, a fim de, no dizer de Paulo apóstolo, "ressuscitarmos da corrupção para a incorrupção, da ignomínia para a glória; do corpo animal para o corpo espiritual, de vez que o último Adão será feito em espírito vivificante" (1 Cor. 15:42/45). Realmente, é preciso "que nos despojemos do homem velho e nos revistamos do homem novo, em novidade de espírito" (Paulo aos Efésios 4:22/24).
DEUS E AS LEIS DO UNIVERSO
Dizemos que a natureza é o símbolo visível de Deus. É verdade. Ele criou o Universo e o sustenta na sua evolução, através de leis e de Auxiliares. Uma dessas leis é a da Atracção ou da Consequência.
Alguém poderia inquirir: Por que Deus permite sofrermos as consequências dos nossos erros? Isso não é um castigo? Se Deus é amor, deveria ter melhores meios.
Respondemos: Há melhores meios que a dor, para quem deseja viver rectamente. A estes é que dedicamos este trabalho. A dor é inevitável apenas para os que continuam a usar mal a liberdade. O livre arbítrio é um sagrado direito individual, e Deus, como Pai e pedagogo incomparável, sabe que precisamos de aprender a usá-lo, para um dia exercermos os deveres e direitos de cidadãos espirituais. Não podemos atingir a virtude, que segue o bem, embora também conhecendo o mal, senão pela experiência e o conhecimento aplicado, consoante as leis do Universo de que fazemos parte, Deus não quer títãs, senão futuros criadores conscientes.
Finalmente lembramos que, assim como a sensibilidade e a dor nos fazem retirar instantaneamente a mão que por descuido pusemos no fogo, para que não se queime demasiado e não nos faça sofrer, assim também, os efeitos dolorosos resultantes de nossos actos erróneos, previnem-nos em tempo, de prejuízos maiores, e até da ruína total, que seria inevitável aos que desenfreadamente se entregam a práticas inferiores.
O INDIVIDUO E A LEI DA CONSEQUÊNCIA
Durante a vida terrestre o ser humano estabelece relações com numerosas pessoas relações essas, que podem ser harmoniosas ou desarmoniosas. Como a morte não liquida os erros, do mesmo modo que um homem endividado não se liberta das suas dívidas pelo facto de mudar-se para outra cidade, a Harmonia Universal exige um ajuste de contas. No caso de dois inimigos, renascerão juntos, talvez na mesma família, como pai, filho ou irmão, para, na convivência e nos laços de sangue chegarem a converter o antigo ódio em amor, conforme o propósito de Deus.
O destino gerado pela Lei da Consequência é complexo, porque o destino de uma pessoa associa-se ao de outras pessoas que muitas vezes não podem renascer na mesma época ou o fazem em lugares distantes, tornando impossível o cumprimento do ajuste numa só vida. Doutro lado, pode suceder que seja tanto o destino gerado, que não tenhamos forças para redimi-lo numa só vida. Em tal caso, dando Deus o fardo conforme as forças, temos de resgatar as dívidas, por assim dizer, "a prestação".
Como é óbvio, o bem se inclui também na Lei da Consequência ou do Retorno.
Assim, a nossa vida actual é, em parte, resultado das anteriores, ficando uma margem variável, ao livre arbítrio. Quanto mais comprometidos estamos com o passado, tanto menos livre arbítrio, e vice-versa. A nossa vida é como um quadro de luz e sombras, uma mescla de tristezas e alegrias, uma sinfonia ainda cheia de dissonâncias. Se queremos alcançar a felicidade futura, é importante não assumirmos novos e pesados encargos e ao mesmo tempo nos aplicarmos diligentemente a um bem orientado esforço da regeneração.
Este último ponto é particularmente endereçado às enfermidades de todo género. Os Rosacruzes consideram a saúde sob um ângulo muito vasto, mental, emocional e fisicamente, posto que o homem é um ser complexo e deve ser encarado nos diversos aspectos. Há uma mútua influência de um corpo sobre o outro. Deste modo, pela reforma global e harmoniosa dos hábitos, exposta na Filosofia Rosacruz, o indivíduo torna-se um auto-curador e habilita-se a orientar os demais na eliminação das causas dos seus sofrimentos. Todos sabemos disto. Os que não estão internamente preparados para enfrentar a vida moderna abreviam as suas existências e sofrem os efeitos do seu nervosismo, angústias, preocupações e insatisfações, com as úlceras gástricas, diabetes, esclerose, enfartes e outros males comuns dos nossos dias.
SÃO OS PAIS CULPADOS DAS ANORMALIDADES DOS FILHOS?
Não. Os pais são meros instrumentos. Pais e filhos são previamente relacionados para cumprimento mútuo do destino. É incontestável, à luz da ciência, que um pai sifilítico muitas vezes gera um anormal e terá de responder por esse acto de irresponsabilidade. Mas, se uma criança chega a nascer nessas circunstâncias, há uma razão do destino, gerada em vida anterior. Embora pareça desumano, é muitas vezes pela dor que um espírito, aprisionado num corpo doente ou demente aprende as suas lições, a fim de retornar ao recto caminho, evitando a sua ruína total (Mateus 5:29 e 30).
Baseados nos conhecimentos ocultos, consideramos a eutanásia e a pena de morte altamente prejudiciais porque simplesmente adiam a lição que o espírito deve aprender.
A lei de hereditariedade age apenas no aspecto físico do homem; não lhe afecta o moral e o mental. Um demente toma um cérebro (físico) doentio do pai, mas não a mente. A Lei de Atracção muitas vezes associa pais e filhos de caracteres e tendências afins. Não é propriamente lei de hereditariedade. É tanto assim que o filho do génio raramente é génio. Dos vinte e um filhos de Johann Sebastian Bach, quem lhe alcançou a estatura musical? E após, quase 300 anos, que descendente o conseguiu? Nenhum, porque sua genialidade, como a de outros (Edison, Mozart etc.), é resultado de mérito individual, como espírito evolucionante mais aplicado.
O GÉNIO E O HOMEM COMUM FACE À LEI DA CONSEQUÊNCIA
O homem ou mulher geniais são almas avançadas que se aplicam e progrediram mais na escola do mundo, em vidas anteriores. É o que sucede a certos alunos, no decorrer da carreira escolar. O nível do Génio será atingido no futuro, pela média da humanidade. O que agora falta, física, moral ou mentalmente, pode ser adquirido num futuro próximo ou remoto, desde que haja o desejo e esforço no sentido da conquista da faculdade ambicionada. De nada vale, pois lamentar a sua falta agora ou buscar alcançá-la ilicitamente, porque, contrariando a lei natural, estamos demonstrando ignorância e retardando dolorosamente o nosso objectivo. A questão é definir-se e trabalhar, começando AQUI e AGORA. Somos os construtores do passado e do futuro. Quando Mozart dava concertos e compunha, na idade de quatro anos, revelava simplesmente faculdades conquistadas em vidas passadas, por esforço. Todas as chamadas facilidades e tendências têm a mesma explicação. Quem inicia agora tem que se aplicar mais, porém, chegará um dia a idêntico resultado. É preciso meditar na lógica desta questão, porque hoje vivemos impacientes e imediatistas, em tudo pretendendo resultados rápidos. Sabe-se que, realizando-se um decidido e perseverante esforço, atingimos mais rapidamente a meta, mas, pelo que se observa, os impacientes e imediatistas de hoje não parecem dispostos a tanto. Infantilmente, julgam que "mestres" externos possam produzir esse milagre dentro deles. Ilusão. As Leis de Consequência e renascimento expõem racionalmente as causas das desigualdades e aparentes injustiças deste mundo, em harmonia com a concepção de um Deus amoroso e justo, conforme explicava o Cristo. No Universo não existe recompensa nem castigo, nem sorte nem azar: tudo é resultado do bom ou do mau uso do livre arbítrio, accionando a invariável Lei, que nalgum dia, nalgum lugar, restabelece as novas condições, em méritos e deméritos, exigindo mais daquele a quem mais deu, dando mais ao que mais bem administrou os talentos espirituais e tirando o pouco que deu, ao que deles não fez uso. Assim é mantido o equilíbrio cósmico, onde o menor acto tenha produzido alteração.
A LEI DA CONSEQUÊNCIA E A ASTROLOGIA OCULTA
Com razão a maioria das pessoas desilude-se hoje da Astrologia: porque confundem a astrologia mundana com a Astrologia oculta, que permanece imaculada e útil, nas mãos de quem não a prostitui por dinheiro ou fama. Foi por ela que os chamados Reis Magos previram nos céus o nascimento de Jesus.
Conforme essa sagrada ciência, um ser renasce neste mundo, no momento exacto em que, no céu, a posição dos Astros, em relação à Terra, reuna as influências e tendências correspondentes ao carácter que ele deve ter nessa vida. Note-se, entretanto, que são apenas tendências, pois os astros "impelem" mas não obrigam. Ninguém, absolutamente ninguém está destinado a errar.
Depois do renascimento de um Ego determinado, sabemos que os astros continuam em sua órbita, formando, uns com os outros, a intervalos, novos aspectos ou configurações. Desse modo vão agindo sobre a aura individual, com tendências várias, a fim de propiciar oportunidades de crescimento anímico e marcando, qual um relógio, as ocasiões em que ele defrontará certas experiências. Se as aproveita, fica-lhe acrescida a virtude; se desperdiça uma boa oportunidade ou cai numa tentação, novas e mais duras experiências continuarão a assediá-lo, até que alcance o pleno domínio de si mesmo. Na medida em que ele aprende a equilibrar-se, vai se libertando de todas as influências, quer das exteriores, quer das interiores, de sua personalidade.
A LEI DA CONSEQUÊNCIA E O DESTINO COLECTIVO
Assim como a responsabilidade individual, ante a Lei da Consequência, traz a cada indivíduo o justo resultado das suas obras, boas ou más, assim também uma responsabilidade colectiva, grupal ou nacional, atrai os espíritos participantes para colher em conjunto o que em conjunto efectuaram. Podem produzir-se, por essa causa, perseguições, carências, inundações, terremotos, quedas de aviões e outros acidentes colectivos, assim como, no lado benéfico, a formação de jazidas (petróleo, carvão, minérios, condições geográficas e climáticas favoráveis etc., no lugar onde renasçam.
CRISTO-JESUS E A LEI DA CONSEQUÊNCIA
No esforço de regeneração que o conhecimento da Lei da Consequência nos impõe, não estamos sozinhos na luta: Cristo-Jesus nos está ajudando.
Mui apropriadamente dizem os Evangelhos que "Deus amou de tal maneira o mundo que lhe enviou o Seu Filho Unigénito para salvá-lo". É uma realidade comprovada pelos Rosacruzes, nos planos internos. Por sua Missão no Gólgota e retorno anual à Terra, Cristo nos infunde Sua Vida, Amor e Luz, suscitando em cada homem e mulher o sentimento de altruísmo e de entendimento. Este assunto, cuja compreensão reputamos vital em nossos dias, está muito bem exposto em "O Conceito Rosacruz do Cosmos", de Max Heindel, ao qual remetemos o leitor.
A EVOLUÇÃO RELIGIOSA E A LEI DA CONSEQUÊNCIA
Segundo o desenvolvimento de cada indivíduo ou agrupamento humano e as necessidades de cada estágio evolutivo, as Inteligências Superiores têm dado, por intermédio dos seus Profetas e Escolhidos, os meios adequados de evolução. Renascemos sempre no tempo e no lugar requeridos por nossas necessidades.
Deu-se assim a evolução religiosa.
O Supremo Arquitecto é Omnisciente. Ele não daria a um povo uma religião cujos ideais não pudesse compreender e os meios que não pudesse executar. Dentro da Lei de Consequência, Deus nos provê conforme as novas necessidades suscitadas por nossa evolução.
Nos primeiros passos da consciência humana (e com as tribos selvagens actuais) foi ensinado que Deus era um Ser terrível, vingativo e mau, que retribuía com pragas, fome e terremotos, às transgressões dos homens. Só um tal Deus poderia ser respeitado. Num segundo estágio (o dos antigos judeus), Deus já amenizou sua ira. Embora continuasse a castigar "olho por olho e dente por dente", já recompensava os bons actos, pela multiplicação dos rebanhos e abundância das colheitas. Os homens sacrificavam cordeiros e bezerros pelos seus pecados, porque não estavam preparados para fazer de si um sacrifício a Deus, pelo domínio de sua natureza inferior. Num terceiro estágio (o do Cristianismo popular, até agora vigente, com pequenas actualizações), foi o Cristo sacrificado pelo mundo e nunca mais se sacrificaram animais; cada homem deve buscar a sua salvação e, embora Deus ainda "castigue" (temor) já se ofereceu a recompensa futura de um céu aos que agissem bem. A natureza humana é ainda muito egoísta. Age por interesse de alcançar o céu e quando faz a promessa de um sacrifício, condiciona-a ao prévio recebimento da graça desejada. O quarto estágio está sendo pregado e realizado pelos Aspirantes Rosacruzes, pelos seguidores do Cristianismo Esotérico, a religião do futuro. Nela o indivíduo evolui pelo entendimento e pelo amor, fazendo de si um sacrifício vivo no altar da humanidade. Renuncia à natureza inferior, não por medo de castigo, nem de inferno. Age bem, não para ganhar o céu, mas porque reconhece que nisso está uma lei natural. É virtuoso porque conhece o bem e o mal e segue o bem, como sinónimo de Deus e da expressão do Criador em Si.
Compreendemos estas etapas todas, ainda nos dias actuais. Por isso respeitamos todas as crenças e convicções.
A LEI DA CONSEQUÊNCIA, O INFERNO E O PURGATÓRIO
A palavra inferno significa "o mais inferior" e simboliza o baixo estado de consciência em que vive o transgressor, seja na terra ou após a morte. O "fogo eterno" não existe. O vocábulo eterno é má tradução. A palavra original tem raiz grega: AIONIAN; quer dizer "um período indeterminado de tempo". Não tem o sentido que lhe deram, de interminável, de eterno.
O único fato comprovado por todos os iniciados, é este: no estado "post-mortem" o Ego vai à região inferior do Mundo dos Desejos e lá os registros de suas acções erróneas provocam reacção da força de repulsão, sofrendo por tempo e intensidade variáveis, efeitos dolorosos e purificadores.
É o que podemos chamar de purgatório, porque nos livra da matéria mais inferior, a fim de podermos subir aos planos superiores, onde assimilamos, depois, o bem realizado. O tempo e intensidade do processo purgatorial são proporcionais à quantidade de erros e da gravidade dos mesmos. De maneira geral, são três vezes mais dolorosos que os sofrimentos provocados e inversamente três vezes mais curtos.
A acção da Lei da Consequência, através da força de repulsão, actuante nos planos inferiores da natureza, é como um fogo depurador. Não o dizemos para inspirar medo, mas para evidenciar a realidade de que todos colhemos os frutos de nossa sementeira. No processo purgatorial, a dor desenvolve a CONSCIÊNCIA, essa voz interna que nos permite discernir entre o bem e o mal. Quando, na próxima vida, pela força do hábito, nos vemos tentados a repetir o erro, a consciência nos adverte. Se vencemos a tentação, crescemos em virtude; se caímos novamente, novas e mais fortes reacções virão, até que o hábito se modifique.
Como estudiosos da Bíblia, os Aspirantes rosacruzes interpretam racionalmente as expressões: purgatório, inferno, geena, fogo eterno, ira de Deus, e outras, como sinónimas do efeito negativo da Lei da Consequência. Assim, eles compreendem que, tanto os efeitos dolorosos como as facilidades que se oferecem na vida individual e nas colectividades, através dos tempos, são o justo resultado do uso da liberdade. Em tal sentido, o que chamam ou parece um mal, é um bem em gestação. E viver de acordo com as leis divinas, é o conhecimento aplicado, usando essas forças, amorosa e desinteressadamente, ao serviço dos demais.
LEI DA CONSEQUÊNCIA E O PERDÃO DOS PECADOS
O perdão dos pecados, ou purificação, é uma realidade, desde o advento de Cristo. Quem estiver interessado no aprofundamento do assunto, no sincero propósito de regeneração, poderá fazê-lo em "O Conceito Rosacruz do Cosmos", de Max Heindel.
O perdão dos pecados consiste na possibilidade concedida a cada ser, não importa quão pecaminoso seja, de modificar ou apagar em seu interior o registro das más acções, para o restabelecimento da paz interna indispensável à felicidade. Com isto realiza um progresso muito grande e rápido, caminho à libertação e que, pelo viver comum, levaria muitas vidas a efectuar.
O perdão dos pecados concilia-se perfeitamente com a Lei da Consequência, posto que o homem, sendo o construtor de seu destino, tem outrossim, o poder e oportunidade para mudá-lo. Melhor dizendo, o que o homem faz, pode também desfazer. E quando se trata de erro, essa possibilidade se transforma num dever de consciência.
Dizer que o homem não pode fugir da acção da Lei da Consequência é um erro. Pode e deve. Há muitos ocidentais que abraçam doutrinas orientais, julgando-as mais lógicas do que o Cristianismo popular, de vez que ensinam as Leis do Renascimento e o Karma (Lei da Consequência). De facto o Cristianismo Popular não expõe explicitamente essas leis, embora elas estejam bem claras na Bíblia. Essa omissão estava prevista na evolução do Ocidente, onde os indivíduos tinham de concentrar-se na matéria para dela extrair todas as experiências necessárias à sua evolução material. A Fraternidade Rosacruz, promulgando os ensinamentos do Cristianismo Esotérico, faz ressurgir claramente essas leis da sabedoria antiga, conciliando-as com o perdão dos pecados a fim de dar aos ocidentais a mais actualizada orientação evolutiva.
As doutrinas orientais tendem ao fatalismo, porque não incluem normalmente a prerrogativa de modificarmos e até anularmos as causas geradoras de um destino doloroso, reduzindo seus seguidores a escravos do passado e tirando a muitos esforçados a possibilidade de caminhar mais depressa O conhecimento do Karma e do Renascimento, sem a lei do Perdão dos Pecados, pode tornar-se, desse modo, mais prejudicial do que se as ignorássemos.
O perdão dos pecados (ou purificação interna), pode ser obtido pelos seguintes meios:
1. Reparação Directa - Desfazendo os prejuízos físicos ou morais causados a outrem, pessoal e integralmente.
2. Reparação Indirecta - Pela oração, exercício retrospectivo nocturno e prática do bem.
Ninguém é perfeito. Não há homem inteiramente bom nem inteiramente mau. Como Aspirantes cristãos, embora nos esforcemos sinceramente, muitas vezes transgredimos as leis de Deus. Sob um impulso emocional, calcando em vícios de origem, dizemos ou fazemos coisas de que, depois, nos arrependemos amargamente. Muitas vezes somos levados a isso por incitação de injustiças, mas, pensando bem, o erro dos outros não justifica o nosso. Ao contrário, esses são os momentos que nos ensejam exercitar o equilíbrio e domínio próprio. Se caímos, pelo menos devemos ter a coragem de nos sobrepor ao amor próprio e conseguir uma solução cristã, enquanto é tempo. (Mat. 5:22/25). E quando um Amigo incorre nessa falha tão frequente, ajudemo-lo à conciliação com o desafecto (Mat. 5:9).
Se já passou a oportunidade, que faremos? O desafecto morreu ou mudou-se para longe ou ficou tão magoado com a injustiça que não quer conciliação? Temos outro recurso, enquanto estamos no caminho, ou seja, neste mundo: é a reparação indirecta. Temos de cumprir nossa parte, a fim de limpar no íntimo o que possa gerar reacção futura desagradável. A prece verdadeira, sincera, sentida, tem o poder de elevar nossa súplica e arrependimento ao próprio trono de Deus, atraindo Sua ajuda e desfazendo em nosso interior, não a memória mas o que nela existe de inferior. Pela oração muitos irmãos nossos conseguiram atrair os desafectos e reconciliar-se com eles, numa amizade mais afectiva que antes. Orar pelos que ofendemos ou pelos quais fomos ofendidos, é não só agir com sabedoria e amor verdadeiros, como também "amar os nossos inimigos". Mas cuidemos bem de não guardar inconscientemente nenhum elo de mágoa ou ressentimento. Isso nos tornaria carcereiros do desafecto porque na realidade não o libertamos: a limpeza não se efectiva em nosso íntimo. E, como a intenção sem actos é incompleta (Tiago 2:14/18) é preciso completar o arrependimento e o perdão com a prática do bem, no amplo sentido cristão, esse bem que todos podem fazer, pela dádiva de si mesmos aos outros na orientação cristã, no incentivo, no conforto moral e material, na tolerância, na visita a enfermos, com propósito amoroso e esclarecido, espontâneo e discreto (Mat. 6:3).
A isto devemos juntar ainda o exercício nocturno de retrospecção. É feito ao deitarmo-nos. Relaxamos o corpo e, com a mente activa, vamos recordando, em ordem inversa, cada acto do dia, começando pelos da noite, para trás, passando aos da tarde, depois aos do meio dia e aos da manhã, buscando ver, imparcialmente, se fomos justos no que pensamos e sentimos em cada acto. Arrependemo-nos sinceramente do que fizemos de mal e regozijamo-nos no que de bem realizamos. Este exercício, tão singelo, quão eficiente, é minuciosamente explicado em "O Conceito Rosacruz do Cosmos", já citado. Constitui o mais poderoso meio de purificação do homem, quando realizado sinceramente e na prática da vida demonstramos o firme propósito de correcção. Aliado, pois, ao domínio de si mesmo, à oração e à prática do bem, discreto e altruísta, transforma o homem ou a mulher, paulatina e imperceptivelmente de tal modo, que, ele ou ela, chegam a admirar-se, tempos depois, da enorme transformação e paz decorrente, no seu interior."
(texto de autor desconhecido)